sexta-feira, 8 de outubro de 2010

SER DISCÍPULO



Quando o grande místico sufi Hasan estava morrendo, alguém lhe perguntou:

- “Hasan, quem foi seu Mestre?”

Ele respondeu:

- “Tive milhares deles. Se apenas enumerasse seus nomes, levaria meses, anos, e agora é tarde demais. Mas certamente lhe contarei sobre três Mestres”.

- Um deles foi um ladrão –

Uma vez me perdi no deserto,e quando cheguei a uma aldeia já era muito tarde, tudo estava fechado. Mas finalmente encontrei um homem, que tentava fazer um buraco na parede de uma casa.
Perguntei-lhe onde poderia ficar, e ele respondeu:

- “A esta hora da noite será difícil, mas pode ficar comigo se for capaz de ficar com um ladrão!”

E o homem era tão harmonioso - fiquei por um mês!
E toda noite ele dizia:

- "Estou indo agora a meu trabalho. Vá descansar e rezar".

E quando ele voltava, eu lhe perguntava:

- “Conseguiu algo?, e ele respondia: Esta noite não. Mas amanhã tentarei novamente, e se Deus quiser...”

Ele nunca se desesperava, e estava sempre feliz.

Quando eu meditava e meditava por anos a fio, e nada me acontecia, muitas vezes havia momentos em que ficava tão desesperado, tão sem esperanças, que pensava em parar com toda aquela bobagem. E de repente me lembrava do ladrão que toda noite dizia: “Se Deus quiser, amanhã vai acontecer”.

- E meu segundo Mestre foi um cachorro –

Eu me dirigia a um rio, sedento, e um cachorro apareceu, também com sede.
Olhou para o rio, vendo lá outro cachorro - sua própria imagem - e ficou com medo.
Ele latia e se afastava correndo, mas sua sede era tamanha que acabava voltando.
Finalmente, apesar do medo, simplesmente pulou na água, e a imagem desapareceu.

E eu sabia que aquela era uma mensagem de Deus para mim: “Devemos dar o salto, apesar de nossos receios”.

- E o terceiro Mestre foi uma pequena criança –

Cheguei numa cidade, e uma criança estava carregando uma vela acesa.
Ela se dirigia à mesquita, para lá depositar a vela.
Apenas por brincadeira, perguntei ao menino

-: “Você mesmo acendeu a vela?”

Ele respondeu:

- “Sim, senhor”.

E continuei.
Houve um momento em que a vela esteve apagada, depois houve outro em que ela se acendeu.

- “Você pode me mostrar a fonte da qual a luz veio?”

E o menino riu, assoprou a vela, e disse:

- “Agora você viu a luz se indo. Para onde ela foi? Diga-me!”

Meu ego e todo o meu conhecimento ficaram despedaçados. E naquele momento senti minha própria estupidez. Desde então abandonei toda a minha eridição.

É verdade que não tive Mestre.
Mas isso não significa que não fui discípulo - "aceitei toda a existência como minha Mestra”.
Meu discipulado foi um envolvimento maior que o seu.
Confiei nas nuvens, nas árvores... na existência como tal.
Não tive Mestre porque tive milhares deles - aprendi de todas as fontes possíveis.
Ser discípulo é uma necessidade absoluta no caminho.

O que significa ser discípulo?

Significa ser capaz de aprender, estar disposto a aprender, ser vulnerável à existência.
Com um Mestre você começa aprendendo a aprender... e muito lentamente você entra em sintonia e percebe que, da mesma maneira, pode entrar em sintonia com toda a existência.

“O Mestre é uma piscina onde você pode aprender a nadar. E quando aprende, todos os oceanos são seus...”

The Secret of the Secrets

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